Vestibular adaptado da FGV quer mais surdos no mercado de trabalho
09/12/2011 15:32
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Arquivo Pessoal
Eduardo prestará vestibular com ajuda de intérprete de língua de sinais
Eduardo Parise era uma criança como todas as outras: só era muito ruim no pique-esconde. Quando brincava com os primos, era facilmente achado, porque deixava sua respiração fazer muito barulho. Eduardo nasceu surdo. No mês que vem, aos 35 anos de idade, ele fará pela primeira vez um vestibular adaptado às suas necessidades.
A novidade é da Escola de Administração de Empresas da FGV em São Paulo. Para compensar a eventual falta de vocabulário específico, os candidatos surdos terão à disposição um intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) para traduzir os enunciados das questões. E, apesar de fazerem a redação normalmente, erros gramaticais normais para surdos, desde que não comprometam o entendimento, serão desconsiderados. A escola vai custear ainda intérpretes de Libras para acompanhar os futuros alunos.
Será uma segunda chance para Eduardo, que já cursou Administração em outra faculdade mas não se formou. Escreveu ele, em entrevista por e-mail: “não tive nenhuma condições prestar ao vestibular (sic), por causa da dominação língua portuguesa e dificuldade de palavras e não há interpretação”. Eduardo lamenta a limitação imposta à sua carreira profissional por não poder, por exemplo, se comunicar por telefone.
Inclusão
O vestibular adaptado não é uma iniciativa isolada. A professora Sônia Regina de Oliveira dá aulas de Libras para alunos ouvintes da EAESP-FGV há quatro semestres. Ela perdeu a audição aos 12 anos. “No início do curso, a motivação da maioria é a curiosidade de conhecer uma língua nova, mas depois o interesse pela inclusão, e a consciência de que podem colaborar para que ela ocorra, torna-se evidente”, contou ela, também por e-mail. “Alguns alunos comentam a importância da disciplina para a desconstrução de estereótipos e preconceitos.” A matéria optativa, de 30 horas, permite aos alunos participar de conversas simples, com apresentação, agradecimentos e solicitações, mas não é suficiente para participar de discussões ou usar conceitos abstratos. “Libras é de fato outra língua e não uma expressão do português por meio de sinais com as mãos”, ressalta o professor Nelson Lerner Barth, vice-coordenador da graduação em Administração.